quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Soneto Do Maior Amor

Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu , que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre , fica triste
E se a vê descontente , dá risada.
E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração , e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal-aventurada.
Louco amor meu , que quando toca , fere
E quando fere vibra , mas prefere
Ferir a fenecer -- e vive a esmo.
Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado , doido , delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo .

Soneto de Fidelidade

De tudo , ao meu amor serei atentoAntes , e com tal zelo , e sempre , e tantoQue mesmo em face do maior encantoDele se encante mais meu pensamento
Quero vivê-lo em cada vão momentoE em seu louvor hei de espalhar meu cantoE rir meu riso e derramar meu prantoAo seu pesar ou seu contentamento.
E assim , quando mais tarde me procureQuem sabe a morte , angústia de quem viveQuem sabe a solidão , fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor ( que tive ) :Que não seja imortal , posto que é chamaMas que seja infinito enquanto dure.

Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei á sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma ...
É um sossego , uma unção , um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta , muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade
' o olhar extático da autora.